terça-feira, 5 de abril de 2011

IMPORTÂNCIA DO CANTO NA LITURGIA

  • Em todos os estudos sobre o canto e a música na liturgia, devemos ter bem claro o princípio fundamental formulado pelo Concílio Vaticano II: "... a música sacra será tanto mais santa, quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica..." (SC 112c). E ainda: "Uma autêntica celebração exige também que se observe exatamente o sentido e a natureza próprios de cada parte e de cada canto..." (MS 6b). Conclusão: Quanto mais gerais forem os textos dos cantos e menos ligados à ação litúrgica ou ao tempo e à festa, tanto menos litúrgicos serão eles, pois o importante é cantar a liturgia, e não simplesmente cantar na liturgia, como tantas vezes acontece.
  • Traduzindo o pensamento conciliar e o ensinamento da Igreja, queremos dizer, inicialmente, que, na liturgia, não se canta por cantar. Não se canta para encher espaço ou cobrir possíveis vazios na celebração. Também não se canta por ser o canto bonito e cheio de mensagens, simplesmente. O canto, na liturgia, não é divertimento nem se destina a tornar a celebração mais leve, mais agradável, mais movimentada. O canto litúrgico nunca pode ser mero enfeite, pois ele tem, na celebração, uma função ministerial, que lhe é própria. Às vezes, porém, certos cantos nos deixam a impressão de estarem apenas embelezando o momento celebrativo.
  • Diga-se, para maior consciência de todos nós, que não existe festa sem canto, nem celebração sem música, e a liturgia deve ser, pela sua natureza laudatória, uma festa, antes de tudo. Uma celebração, pois, sem canto é uma celebração morta, apagada. Em todas as culturas e em todas as civilizações, o canto sempre constitui alegria de um povo, ou então marca de suas angústias, de seus sonhos e de suas aspirações. Na liturgia, esse dado fundamental da fenomenologia antropológica é ainda mais evidente.
  • Na liturgia, o canto une as pessoas, anima e dá vida à celebração. Facilita passar de "uma só voz" a "um só coração", e, finalmente, a "uma só alma", como se vê na espiritualidade das comunidades primitivas. Podemos, pela liturgia, unir nossa voz à dos anjos, sendo realmente nosso canto exultação de um povo feliz e redimido.
  • Na linguagem bíblica e litúrgica, canto se associa ao Espírito Santo, e espírito tem relação com sopro, vento. O Espírito de Deus suscita em nós o "som", a vibração correta, que nos faz pensar e sentir em uníssono com o próprio Deus. O canto produz, pois, a harmonia universal. Aliás, a palavra "canto" já tem um sentido etimológico de "harmonia". Assim, podemos dizer que a criação, na sua harmonia, é um canto de louvor a Deus, e a liturgia, nas palavras de Paulo VI, é o louvor de Deus, na linguagem de um povo orante.
  • O canto ainda amplia o sentido das palavras e, por outro lado, sonda o mais profundo da interioridade do ser, cativa e faz brotar os sentimentos mais puros e profundos da alma humana. Ele liberta-nos dos limites da palavra, do racionalismo intelectual, do mero conceito, para dar-nos uma projeção do infinito e do indizível, na alegria que faz o coração exultar diante do mistério. É nesse sentido que São Tiago pergunta e, ao mesmo tempo, responde: "Está alguém alegre? Então cante!" (Cf. Tg 5,13b).
  • Devemos vivenciar juntos a profundidade espiritual de um canto, pois a música, na liturgia, é chamada a uma densidade teológica e espiritual à altura do mistério que nela celebramos. Por isso, não se pode escolher qualquer canto e qualquer música para a liturgia, pois, como já vimos, ela deve aderir-se à natureza da liturgia, na sua funcionalidade ministerial. A letra e a música deverão, assim, ser feitas no Espírito, levando-se em conta a situação ritual do canto.
  • O canto, no cumprimento das exigências da liturgia, deve trazer texto, ritmo e melodia prenhes, isto é, grávidos do mistério de Deus, pois a primeira linguagem do canto, sobretudo litúrgico, é a do inefável, do mistério. Portanto, deve trazer ele as qualidades essenciais ao mistério: primeiramente, teológica, isto é, com a correta formulação doutrinária (ortodoxia católica); depois, espiritual, ou seja, capaz de nos elevar e edificar; também bíblica, quer dizer, com aquele espírito próprio da revelação divina e com ele facilmente identificável; não dispensando também a qualidade mistagógica, isto é, aquela experiência vivencial da Igreja que, na simplicidade, manifesta o reino de Deus. Por último, aparece ainda, como exigência, segundo Ione Buyst, a qualidade estética, com as notas do poético e do musical, sempre com a força evocativa e simbólica, tendo espaço: para o mistério, para o silêncio meditativo, para o vôo contemplativo.
  • Um canto só é, pois, litúrgico, voltamos a dizer, quando serve à liturgia, dentro das exigências desta. Fora da celebração, mesmo com todas as qualidades litúrgicas, torna-se simplesmente um canto sacro, religioso. Isto, porém, não quer dizer que todo canto religioso serve para a liturgia. Os letristas e compositores, a propósito, são chamados pelo Concílio Vaticano II a se instruirem no mistério litúrgico, a fim de comporem textos e músicas que enriqueçam ainda mais o tesouro da eucologia cristã.

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